Falar em prostituição é também revelar a invisibilidade social e o estigma que naturaliza as violações de direitos humanos das mulheres. Com uma reflexão abrangente sobre o universo prostitucional, a Rede Oblata lança uma obra que compreende a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, tais como a sociologia, antropologia e a educação popular.

O livro Prostituição: mudanças, autoimagens, confrontações e violência é fruto de um projeto de pesquisa sobre Violência contra as Mulheres que exercem a prostituição, realizado em 2017 pela Rede Oblata, composta pelos projetos sociais do Instituto das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor no Brasil. Os dados parciais dessa pesquisa e de outros trabalhos relacionados foram apresentados em seminários promovidos pelas Unidades da Rede: Pastoral da Mulher (Juazeiro – BA), Projeto Força Feminina (Salvador – BA), Projeto Diálogos pela Liberdade (Belo Horizonte – MG) e Projeto Antonia (São Paulo – SP).

O primeiro texto, “As mudanças no trabalho sexual” de Vitor Costa, mostra como a atividade sexual vem se transformando no decorrer dos anos, sobretudo a partir do século XXI. Para o autor, o desenvolvimento da internet e das redes sociais teve um impacto decisivo para as mudanças nessa atividade, além das diferentes posturas do Estado em relação à mesma.  Vitor chama a atenção para a evolução da condição da mulher na sociedade e a mudança nos comportamentos e motivações de homens que procuram sexo pago. Relata que os estudos sobre o comportamento dos clientes e suas motivações dentro do mercado sexual, começam a surgir somente a partir da primeira década de 2000. Para o autor, na maioria dos contextos atuais de prostituição, o cliente procura uma ligação erótica que envolva intimidade e afeto, sendo essa ligação um dos motivos pelos quais a prostituição deixa de acontecer nas ruas, o que faz ampliar as modalidades de espaços, pois os programas acontecem em casas, apartamentos entre outros. 

O texto também menciona posturas do Estado em relação à prostituição que, ora utiliza a repressão, ora ignora a atividade na sociedade. 

“Os clientes, homens, passaram a demandar novos serviços, antes raros na atividade, tais como uma performance que abarque afeto, emoção e autenticidade sexual. Além disso, as diferentes posturas do Estado em relação à atividade (abolicionista ou regulamentarista, entre outras possibilidades) e o desenvolvimento da internet e das redes sociais tiveram um impacto decisivo para as mudanças no trabalho sexual.”

(Vitor Costa)

O segundo texto, “Prostitutas em Círculos de Cultura: Tecendo Autoimagens humanizantes e afirmando-Se Como Sujeitos Políticos”, apresenta as considerações resultantes da pesquisa de pós-doutoramento de Fabiana Rodrigues de Sousa. A autora busca compreender como mulheres que exercem a prostituição se educam a partir do momento em que passam a fazer parte de associações da categoria. As ações desenvolvidas no interior dessas associações favorecem a construção de autoimagens positivas com relação à atividade que desenvolvem e estimula as mulheres a adquirir uma postura crítica frente ao cotidiano que vivem, possibilitando que as mesmas se assumam enquanto sujeito de sua prática.   

A autora dialogou com mulheres militantes que participam de quatro associações de mulheres no Brasil e analisa esses dados a partir dos princípios da Educação Popular. Pontua que ao organizarem e executarem as ações das associações, as mulheres que exercem a prostituição “aprendem pelo corpo e com o corpo e passam a tecer novos significados sobre si e sua prática, (re)existenciando suas vidas”.

Prostitutas militantes “com-fiam”, isto é, tecem umas com as outras novas formas de perceber a si e a sua prática. Nessa tecitura coletiva, passam a sentir-se parte de um grupo, sentem-se úteis, deixam de lado a timidez, desenvolvem autoconfiança para falar, expressar o seu ponto de vista, olhar nos olhos, fortalecem a autoestima…”

  (Fabiana Sousa)

No terceiro texto, Adriana Piscitelli apresenta uma reflexão sobre “Os Riscos da Esfera Transnacional: Recentes Confrontações entre Feminismos no Brasil”. A autora pontua que, em diferentes lugares do mundo, existem relações tensas entre algumas linhas de pensamento feminista e movimentos de mulheres que exercem a prostituição. No Brasil, porém, essas relações eram mais moderadas até poucos anos atrás, mas vem se intensificando numa crescente forma espiral de violência. O texto apresenta uma breve síntese dessas relações na história e pontua que os ativismos dos movimentos das mulheres introduziram novos elementos nas relações entre feminismo e prostituição. 

“Em diferentes partes do mundo há relações tensas entre algumas linhas de pensamento feminista e prostitutas. No Brasil, porém, as confrontações feministas em torno da prostituição, relativamente moderadas até poucos anos atrás, se intensificaram numa crescente espiral de violência.”

(Adriana Piscitelli)

O último texto, Violência contra mulheres que exercem a prostituição: breve mapeamento entre mulheres atendidas projetos sociais das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor no Brasil,  de Vitor Lopes Costa e Lúcia Alves da Cunha, apresenta os resultados da pesquisa obtidos a partir de questionários aplicados às mulheres que exercem a prostituição, atendidas nas quatro unidades dos projetos sociais das Irmãs Oblatas no Brasil. Esses dados estão concentrados em dois temas principais: violência domestica e violência no ambiente prostitucional. Também traça o perfil dessas mulheres a partir das variáveis: idade, raça e escolaridade. É uma pesquisa exploratória, relativamente grande em comparação com outras investigações qualitativas sobre prostituição feminina no Brasil. O recorte dessa investigação passa pela atuação das Irmãs Oblatas nas quatro cidades onde as mesmas se fazem presentes e visam contribuir com o seu trabalho de assistência às mulheres que exercem a prostituição. O texto relata que 61% dessas mulheres já sofreram violência no exercício da prostituição, e os processos de violência possuem como alicerces principais a violência de gênero e o patriarcado.  

“Salta aos olhos a quantidade de entrevistadas que sofreram violência fora dos espaços de prostituição, ainda no lar[…] No caso das mulheres atendidas pelos projetos da Rede Oblata, universo dessa pesquisa, 61% já sofreram violência no exercício de sua atividade.”

(Lucia Alves e VITOR COSTA)

*Texto adaptado da apresentação e trechos da obra.


Lançamento

A data oficial de lançamento será divulgada nas redes sociais da instituição, bem como os convites para os webinars programados com as autoras e autor da obra, viabilizando a exposição e debate sobre os temas abordados.

O livro será disponibilizado para vendas no site da Editora Pluralidades e no formato virtual em livrarias on-line, como a Amazon. Alguns exemplares impressos podem ser adquiridos diretamente com a coordenação do Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil.


Contatos

Ir. Lúcia Alves da Cunha | [email protected]

Telefone(11) 2294-8324 | São Paulo/SP

Financiadora – Fundação Serra Schönthal

A pesquisa e a publicação da presente obra foi financiada pela Fundação Serra Schönthal, entidade sem fins lucrativos criada pela Congregação das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor. Seu objetivo principal é o compromisso solidário com as mulheres que exercem prostituição e / ou são vítimas de tráfico para exploração sexual, bem como a denúncia de estruturas que não respeitam os direitos humanos proclamados pelas Nações Unidas, especialmente em situações de injustiça e violação dos direitos das mulheres. A Fundação busca fornecer assistência social às mulheres vítimas de exploração sexual, cooperação para o desenvolvimento, defesa dos direitos humanos e promoção do voluntariado. 

Em abril, a Fundação Serra-Schönthal lançou uma campanha em benefício das mulheres afetadas pela crise do COVID-19. A organização visa atrair doações para financiar necessidades básicas de alimentação e saúde das mulheres e suas famílias. Elas não aparecem nos registros oficiais das pessoas afetadas, mas suas condições de vida foram seriamente afetadas. A Fundação já apoiou mais de 90 projetos, realizados em 15 países.

Sobre a Rede Oblata Brasil

A Congregação das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor é uma instituição católica criada em 1870, na Espanha. Tem como fundadores o monge beneditino José Maria Benito Serra, e Antonia Maria de Oviedo
leiga que, posteriormente, tornou-se religiosa consagrada. A partir da observação do tratamento dispensado às mulheres em contexto de prostituição quando recorriam aos hospitais ou mesmo à qualquer instituição religiosa ou filantrópica, decidiram desenvolver
um trabalho totalmente direcionado à acolhida dessas mulheres que se
encontravam à margem da sociedade e sem qualquer possibilidade de
inserção.


Atualmente a congregação atua em 15 países, desenvolvendo ações com
as mulheres que exercem a prostituição e no enfrentamento ao
tráfico para fins de exploração sexual.

Conheça a nossa congregação:

http://www.hermanasoblatas.org/