A Rede Oblata Brasil, a partir de uma comissão organizada, traz a público o seu relatório de atividades anual, com referência ao ano de 2021.
Sob a perspectiva de conhecimento público, este instrumento possui o objetivo de apresentar dados quantitativos e qualitativos das ações realizadas nas quatros unidades que compõem a Rede Oblata no Brasil, apresentando a realidade das mulheres que exercem a prostituição e que se encontram em contexto de vulnerabilidades.
Com implicação profética, solidariedade real e afirmação do Deus da Vida, trabalhamos para tornar mais justo e menos vulnerável o caminho de mulheres em contextos de prostituição ou vítimas do tráfico para fins de exploração sexual, atuando diretamente na redução de danos, sensibilização da sociedade e defesa dos seus direitos humanos. Esta é a nossa missão ampliada em 15 países no mundo.
Em 2021, o trabalho nas quatro unidades Oblatas no Brasil resultaram em:
1.119 MULHERES ASSISTIDAS
18.732 Acolhidas virtuais*
1.983 Atendimentos presenciais*
405 Encaminhamentos (saúde, jurídico, social)
*Os números da acolhida e atendimentos referem-se a contínuas ações para mulheres que têm atendimento recorrente ou pontual.
Insegurança Alimentar
A pandemia da COVID-19 reacendeu as discussões sobre a insegurança alimentar que atinge atualmente mais de 10 milhões de brasileiros (FIOCRUZ, 2021). Minimizar os impactos negativos trazidos pelo coronavírus, mas vivenciados há muitos anos ou quase sempre pelas assistidas, foi o foco das ações em 2021.
Existem vários níveis de insegurança alimentar:
LEVE: preocupação com a falta de recurso para comprar o alimento.
MODERADA: a falta de recurso já existe e exige mudanças na qualidade e quantidade de alimentos.
GRAVE: quando há privação dos alimentos, ou seja, A FOME.
A privação do alimento advém da falta de recursos devido ao impacto econômico no país, como o desemprego. Para as trabalhadoras informais, que é o caso das assistidas pela Rede Oblata, a situação foi/é ainda mais complexa. Conseguir estabelecer uma alimentação completa e/ou saudável ou ter alimentos disponíveis, tem sido um desafio vivenciado diariamente de maneira precária.
Investiu-se em ações e articulações para diminuir a fome e as necessidades básicas das mulheres, firmando parcerias com instituições sensibilizadas pela missão e que possuem um olhar humanizado para as mulheres vulnerabilizadas, principalmente as que exercem a prostituição.
Nossas parcerias são de fundamental importância para o desenvolvimento do trabalho, somando forças em prol da justiça social.
“A Minha Cesta realiza um mapeamento ativo de instituições de apoio social na região de Salvador/BA e região metropolitana. Nesta busca, tivemos a satisfação de encontrar o Projeto Força Feminina, uma instituição social com a importante missão de aproximar-se, compreender, acolher e acompanhar mulheres que se encontram em situação de prostituição. Agregar este projeto à nossa plataforma representa abraçar um grupo de pessoas pouco contemplado pelo investimento social, é caminhar em direção à transformação dessa realidade. Hoje, o Projeto Força Feminina está disponível em nossa plataforma para ser contemplado pelos nossos doadores. (Equipe Minha Cesta Delivery)
Saúde mental em foco
Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde/ Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS): “Saúde mental refere-se a um bem-estar no qual o indivíduo desenvolve suas habilidades pessoais, consegue lidar com os estresses da vida, trabalha de forma produtiva e encontra-se apto a dar sua contribuição para sua comunidade”, ou seja, é entendida como um estado onde o indivíduo está bem o suficiente para lidar com as situações cotidianas, que são tão diversas quanto imprevisíveis. Alguns fatores internos e/ou externos tornam algumas pessoas mais ou menos suscetíveis ao adoecimento mental.
Quando se trata das mulheres em contexto de prostituição, atendidas pela Rede Oblata Brasil, que estão em extrema vulnerabilidade social, podemos apontar alguns fatores desencadeantes do adoecimento mental, como: a própria vulnerabilidade em que vivem; insalubridade e precariedade dos locais de trabalho; risco de violência física, moral, patrimonial, psicológica e sexual; estigma e preconceito acerca da prostituição; dificuldade de acesso aos direitos básicos de sobrevivência; entre outros, que se agravaram em função da pandemia pela COVID-19.
O tema da saúde mental sempre permeou os estudos e reflexões nas unidades Oblatas, porém nos últimos anos percebemos um aumento de demandas relacionadas ao adoecimento mental e busca por atendimento psicológico e psiquiátrico, tornando em 2021, um dos temas centrais nas ações e parcerias para o acesso das mulheres aos equipamentos de saúde mental e práticas integrativas.
«Muitas das mulheres que fizeram uso dos florais conseguiram fazer mudanças em suas vidas. Algumas delas fizeram mudanças na vida familiar: mudaram seu comportamento com os filhos, conseguiram se colocar de forma mais clara, ficaram mais abertas para ouvir a si mesmas e também a outras pessoas. Outras passaram a dormir melhor, diminuíram consideravelmente a ansiedade, a agressividade e estados depressivos e obsessivos. Também conseguiram se organizar melhor, ficaram mais motivadas a buscar trabalhos fora da prostituição e algumas voltaram a estudar. Para mim significa que os florais trouxeram um novo ânimo, uma maior vitalidade que podemos traduzir como uma maior saúde.” (Queila Manso – Terapeuta Floral no Diálogos pela Liberdade)
Depoimentos de algumas mulheres assistidas pela Rede Oblata Brasil
“Tem dias que a mistura é salsicha, tem dias que não é nada, ovo nem compro mais porque está muito caro”. E. T. A. S. - Mulher atendida - Pastoral da Mulher (Rede Oblata Juazeiro/BA)
“Um dia desses eu tava lembrando como eu sou grata por ter conhecido vocês, sabe? Por ter me permitido deixar vocês entrar na minha vida, porque vocês estão sempre ali, é nós que temos que nos permitir deixar vocês participar da nossa vida. E através do Diálogos pela Liberdade eu fiz o curso de cuidadora de idosos. Hoje, graças a Deus, já vai fazer um ano que eu trabalho como cuidadora de idosos. Então, assim, muitas coisas que eu fiz depois de crescimento pra mim, depois que eu sair do Diálogos pela Liberdade. Foi muita coisa boa que aconteceu, sabe? Eu ter participado do Diálogos pela Liberdade me abriu outras portas, entendeu? Eu sou muito grata mesmo. E Deus abençoe que voltem mesmo, porque a presença de vocês é muito importante na vida de todas nós.” A. M. - Mulher atendida - Diálogos pela Liberdade (Rede Oblata Belo Horizonte/MG)
“Estava no meu local de trabalho e recebi o convite da educadora social do Projeto Antonia para conhecer a sede, ela era uma pessoa maravilhosa, excepcional, atenciosa, educada, com muita paciência, sempre sentava no salão da boate e dava atenção às mulheres. Demorei um pouco para vir pela primeira vez por conta do horário de trabalho, mas depois, nunca mais deixei de vir. Estar no Projeto Antonia me faz muito bem para a cabeça, é como uma consulta no psicólogo, é o lugar onde posso falar do trabalho e questões do dia a dia, pois conversar abre a mente para encontrar as coisas e pouco a pouco as ideias vão chegando na cabeça.” E. C. B. - Mulher atendida - Projeto Antonia (Rede Oblata São Paulo/SP) “Desde quando me encontrei no mundo da prostituição o Força Feminina esteve sempre comigo e com as mulheres que estavam nas casas. Tinha a preocupação de levar kits de higiene, encaminhar para fazer teste rápido, fazer palestras… Agradeço muito a vocês, pois vocês vieram para ajudar. Fiz o curso e tenho meu certificado de atendente de garçonete este ano por causa de vocês. Eu agradeço pelo apoio, pelo carinho, pelo respeito. Que Jesus continue sempre abençoando, dê força, saúde para sempre estarem dispostas a cuidar de nós. Eu, sempre agradeço!” L. S. – Mulher atendida - Projeto Força Feminina (Rede Oblata Salvador/BA)